sábado, 27 de março de 2010

Não contesto! atesto!


Enivrez-vous

(Charles Baudelaire, Petits poémes en prose, 1869)

Embriagai-vos!
(Trad. Paulo de Oliveira, 1937)

Deveis andar sempre embriagado. Tudo consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso

Mas, de quê? De vinho, de poesia ou de virtude. Como achardes melhor. Contanto que vos embriagueis.

E se, alguma vez, sob os degraus de um palácio, na verde relva de uma vala, na solidão morna de vosso quarto, despertardes com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão:

- É a hora da embriaguez! Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos! Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, com poesia ou virtude! Como achardes melhor!

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