quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

E mais uma vez Drummond tem razão!

Para sempre


Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

"Rifa-se um coração"



Alguns textos provocam verdadeira epifania. Parece que nos revelam algo que se escondia, que não queria ser visto, ouvido, exposto. Bem ali atrás da inconstância, ao lado esquerdo do medo, ao direito das mágoas e arquejando com peso descomunal da solidão. Tudo isso pulsando à 60 bpm. por isso:

Rifa-se um coração

Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional
que abre sorrisos tão largos que quase dá
pra engolir as orelhas, mas que
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e,
se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta

Clarice Lispector

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

sexta-feira, 23 de julho de 2010

o valor da Amizade....

Amigos, ainda…

Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas
jogadas fora,
das descobertas que fizemos, dos sonhos
que tivemos, dos tantos risos e
momentos que partilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrimas, da
angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim…
do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades
continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja
pelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.
Talvez continuemos a nos encontrar, quem
sabe…nas cartas que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas
tolices…
Aí, os dias vão passar, meses…anos… até
este contacto se tornar
cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo….
Um dia os nossos filhos verão as nossas
fotografias e perguntarão:
“Quem são aquelas pessoas?”
Diremos…que eram nossos amigos e……
isso vai doer tanto!
“Foram meus amigos, foi com eles que vivi
tantos bons anos da minha vida!”
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes
novamente……
Quando o nosso grupo estiver incompleto…
reunir-nos-emos para um último
adeus de um amigo.
E, entre lágrima abraçar-nos-emos.
Então faremos promessas de nos encontrar
mais vezes daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para
continuar a viver a sua vida,
isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo…..
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde
amigo: não deixes que a vida
passe em branco, e que pequenas
adversidades sejam a causa de grandes
tempestades….
Eu poderia suportar, embora não sem dor,
que tivessem morrido todos os
meus amores, mas enlouqueceria se
morressem todos os meus amigos!

Fernando Pessoa

domingo, 30 de maio de 2010

sábado, 3 de abril de 2010

Infinito particular...

Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou portabandeira
de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Carlinhos Brown

sexta-feira, 2 de abril de 2010

"O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel." (Platão)




Meia noite e meia, um quarto de século depois,dois, dois mil e dez... números. Contar, medir e contar mais. por que medir o tempo se torna tão importante? Crianças têm uma noção de tempo bem diferente da que adultos têm. Essas sim o dominam.... Às vezes, pensar sobre o que se faz com o tempo durante toda uma vida, ou parte dela, é cruel e traz dúvidas. por que deixar passar aquela oportunidade...por ter dito tanto ou tão pouco...
É... ser mulher tem disso!Lógica alguma, tudo à flor da pele, melancolia, tristeza, raiva,calma,alegria, alívio, êxtase... ser mulher é isso,ou parte disso, ou ainda nada disso. Aos vinte cinco, o tempo mostra sua face mais amedrontadora... a busca desenfreada pelo sucesso e pela felicidade, se é que isso existe, é exaustiva. Tanto passou, tanto virá... O espírito inquieto transborda, não se contém...
um afago:

É de lágrima
Que faço o mar pra navegar
Vamo lá!
Eu não vi, não, final
Sei que o daqui
Teimou de vir, tenaz assim
Feito passarim

É de mágica
Que eu dobro a vida em flor
Assim!
E ao senhor de iludir
Manda avisar, que esse daqui
Tem muito mais amor pra dar

(Los Hermanos)

sábado, 27 de março de 2010

Não contesto! atesto!


Enivrez-vous

(Charles Baudelaire, Petits poémes en prose, 1869)

Embriagai-vos!
(Trad. Paulo de Oliveira, 1937)

Deveis andar sempre embriagado. Tudo consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso

Mas, de quê? De vinho, de poesia ou de virtude. Como achardes melhor. Contanto que vos embriagueis.

E se, alguma vez, sob os degraus de um palácio, na verde relva de uma vala, na solidão morna de vosso quarto, despertardes com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão:

- É a hora da embriaguez! Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos! Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, com poesia ou virtude! Como achardes melhor!

terça-feira, 23 de março de 2010

Acaba logo....

Down em mim


Cazuza

Eu não sei o que o meu corpo abriga
Nestas noites quentes de verão
E nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down

Outra vez vou te cantar, vou te gritar
Te rebocar do bar
E as paredes do meu quarto vão assistir comigo
À versão nova de uma velha história
E quando o sol vier socar minha cara
Com certeza você já foi embora
Eu ando tão down
Eu ando tão down

Outra vez vou te esquecer
Pois nestas horas pega mal sofrer
Da privada eu vou dar com a minha cara
De panaca pintada no espelho
E me lembrar, sorrindo, que o banheiro
É a igreja de todos os bêbados
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Down... down


segunda-feira, 15 de março de 2010

ai que saudades eu tenho....


MaterVeneranda

Por ti que o ser me deste, eu vivo apenas;

Vivo junto de ti mesmo sozinho,

Sem as carícias mansas e serenas

E a ventura materna do teu ninho.

Em extremos de afeto e de carinho,

Com essência de dor das minhas penas,

Vou regando a aridez do teu caminho,

Para que brotem lírios e açucenas...

Sabem do meu amor os que em ti pensam,

Mas não sabem que, na alma que me deste,

Nossas almas em uma se condensam.

Corpo humano de espírito celeste,

Eu tudo sofro, pela tua bênção!

[...]

Em horas de incerteza, de amargura,

Quando, sem fé, o espírito vacila,

Surge ante mim uma visão tranqüila,

Num sonho de esperança e de ventura.

É a alma de minha mãe que, suave e pura,

Desprendida, talvez, da humana argila,

Me vem à idéia, em meu olhar cintila

E meu aflito coração procura.

Quando, sem ilusões, tristonho e absorto,

Deixo que a alma na cisma se concentre,

Vejo-a fulgir nas sombras do meu Horto.

Tenho ante os olhos essa imagem, que entre

Bênçãos de amor e preces de conforto,

Bendiz o fruto amargo do seu ventre.

Da Costa e Silva

Dizendo a que vim!!!! por M. Quintana

POEMINHA DO CONTRA

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.Eu passarinho!